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GAZETA

Antes arte do que tarde – Carlos Gildemar Pontes

Há muito tempo, descobri que não poderia viver sem a arte. Quando criança, foram as leituras dos contos infantis. Os irmãos Grimm, Christian Andersen, Charles Perrault, As mil e uma noites, os contos de Trancoso, contados por minhas tias, todos eles iluminaram o meu espírito infantil, sem contar os inúmeros cordéis que eu ouvia, narrados […]

Publicada em: 22/04/2014

Há muito tempo, descobri que não poderia viver sem a arte. Quando criança, foram as leituras dos contos infantis. Os irmãos Grimm, Christian Andersen, Charles Perrault, As mil e uma noites, os contos de Trancoso, contados por minhas tias, todos eles iluminaram o meu espírito infantil, sem contar os inúmeros cordéis que eu ouvia, narrados por meu pai. Eu e a poesia nos encontramos na infância e nunca mais nos separamos. Desde então somos parceiros, cúmplices, viajamos as estradas secas e empoeiradas do deserto, frequentamos as neves das montanhas, folgamos ao mar, sonhamos nos anéis de Saturno.

Eu gostava de revista em quadrinhos, as famosas HQs, e espiava o tempo de cara pra cima no muro de casa, invocando os saberes da humanidade para descobrir o que havia antes do Big Bang. As histórias fantásticas dos super heróis eram fáceis de entender, mas e o início dos tempos? Quem estaria lá para registrar as obras de Deus ou do acaso? Quem seria a Mãe de Deus? Uma energia capaz de materializar o Criador, e o Criador – as criaturas? e as criaturas – a violência, a lei, a liberdade, a prisão, o amor, a paixão, a arte?!

O que significa a arte no meio do universo humano? E o artista, que possessão, que poderes estranhos e ocultos possui para criar a beleza na catarsis? Ou a estranheza no caos? Segui o conselho de minha mãe: eu quero ver você fazer arte, ora! Poetizei-me até o pescoço, não sobrou lugar para um cordão sequer. Das traquinagens infantis ao livro e ao palco.

Há mais coisas inominadas do que nomes para as coisas. Arte é beleza gratuita de fora da mente. Vou tecendo mil condões de fios d’ouro. A arte é raio de ouro, coroa de sol, solar de alpendre, recanto de rede, gemido de armador… toda arte tem sua dor. Não há cura, não sara, não saracura nem beija-flor. Em terra de poesia, desanca a canga, canta e assobia, meu papagaio canta mais que o sabiá.

gilpoeta@yahoo.it